“Oi, meu nome é Lucas Vinícius da Rosa, e eu sou um alcóolatra dos sentimentos cotidianos.”
Tornei-me uma espécie de monstro com face delicada. Absorvi todos estes abraços que não pude tê-los. Fui desde os estereótipos conservadores aos mais flexíveis. Na tentativa de verificar a plenitude das diferenças, vi em outros olhos a semente da loucura; se Nietzsche tinha razão, há um quê de loucura no amor, e outro quê de razão na loucura; por isso chamam-me louco: racionalizo o amor.
Duas mulheres, de duas décadas de idade (como a minha), entram na loja de conveniência. Sua postura é tão altiva que meu dia, só por isso, pela decisão corriqueira delas, tornou-se mais claro.
Em outra esquina, não distante de onde estou, cinco ou seis amigos meus passam rindo uns com os outros. À distância vejo sua cordialidade. Penso se a ressaca deles é a mesma que arrebata meu coração. Cumprimentei-os em silêncio. Eles se foram, sem saber de meu sincero aperto de mão imperceptível.
Uma senhora me encarou, num carro estacionado ao lado de onde eu estava. Olhando-me de cima até baixo, buscou fazer-me um juízo de meu, ou quem sabe seu, valor. Estendi minha cerveja em sua direção, “feliz páscoa à senhora!”, eu disse. Ela sorriu, seu neto neste instante eu me tornei. Tantas pessoas procurando família, e eu ali a me filiar a cada um a cada momento.
Inspiro-me já por qualquer coisa. Assim, tenho tudo. Os dias menos chatos são aqueles em que estou de olhos abertos.
Como diria Cazuza, se a vida não posso levá-la, quero que ela me leve. E se Raul interferiu, não tenho 24 anos, mas nascido há 10.000 anos, estou envelhecido pelas falsas verdades ancestrais.
Renasço sempre que vejo simples garotas de tecido negro, ou amigos nas esquinas, e quando meu espelho não está quebrado.
Neste organismo que padece chamado sociedade, estou ao pé da escada dos sentimentos. Escalo todos os dias, todos os degraus, para me tornar o que ninguém irá jamais ver.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa