Na disputa travada entre Atenas e Perséfones pelo belo Adônis, este foi preferido e preferiu Atenas à esposa de Hades, deus do submundo. Mas, espera aí, tudo isso foi por…beleza? Foi sim. Não admira um javali, enviado por Ares — deus da guerra e amante de Atenas –, ter escorrido o sangue de Adônis. Só mitologia? Sei não, os gregos continuam entre nós, com personagens mundanos; tem até um Narciso se olhando no espelho; a propósito, você já se olhou no espelho hoje?
São vaidosos não mais que ferrenhos
recusam-se à metamorfose como ferro
mas é o ferro a via para o oxigênio
e o oxigênio o sacerdote do enterro
Valetudinária no sopé da via pública
há criança faminta de boa herança
ulcerado seja o feitor da escritura
que faz pão com trigo de má infância
Enquanto a sós admiram-se no espelho
refletem Narciso n’águas da correnteza
disputam Adônis com pedra no tornozelo
e afogam-se na fundura do rio da beleza
Bons repetidores e maus proponentes,
solicito-lhes impiedosamente:
matem Narciso com lança de ferro
e façam da criança herdeira de esmero!
Autor: Lucas Vinícius da Rosa