Ela está com o celular à mão. Contorna a esquina com os olhos vidrados na tela. Está sequiosa, sedenta por um toque, uma vibração que indique que ele lhe contatou.
Ele, distante alguns quilômetros dela, anda também à rua. Passa por um ponto de ônibus, também com um aparelho celular à mão. Há muita gente ali, mas ele não nota. Está atento, centrado em sua tela de fundo negro com ícones brilhantes. Ele para, e inconscientemente espera que a massa de pessoas entre na lotação. Com o caminho livre, segue em frente. Ele está sequioso, sedento por um toque, uma vibração que indique que ela lhe contatou.
Não importa se iriam confrontar-se logo em seguida, ou se já há pouco haviam conversado. Quando fisicamente diante de si, e os celulares nos bolsos, foram incapazes de dizer um ao outro aquilo que se pretendia. Os olhos se rebaixavam, e um sorriso insosso assumia a feição de ambos. Combinaram, por um consenso estabelecido de forma muda, de se falar depois. Pelo celular.
Terminado o contorno da esquina, ela finalmente sorriu. E atravessada a faixa de pedestres, situada logo após o ponto de ônibus, ele aquiesceu. Um toque musical ressoou dos dispositivos, e eles então puderam silenciosamente escrever um ao outro aquilo que, antes, seus olhos ingênuos ocultavam com tanto custo.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa