Alguns dias atrás entrei no ônibus para ir ao dentista. O dia estava lindo, quase nenhuma nuvem no céu. Tudo encaminhava-se muitíssimo bem, até eu sentar ao lado de um moça, que por ventura estava bastante concentrada em sua leitura, e ler o título do livro que ela empunhava: Fundamentos da Cura Quântica. Na hora fiquei meio transtornado, e pensei em perguntar-lhe se pretendia utilizar a equação de Schroedinger para calcular a densidade de probabilidade da gota de dipirona que pretendia tomar. Obviamente não fiz isso.
Tudo bem… ninguém, salvo profissionais da área, precisa entender de Física Quântica. Definitivamente não é essa a questão. Minha revolta é contra os que se apropriam de conceitos científicos, em geral pouco compreendidos pela comunidade leiga, para dar credibilidade a qualquer coisa que queiram nos empurrar goela abaixo. São coisas do tipo: Cura Quântica, Exoterismo Quântico, Tarô Quântico… Logo mais os vendedores sorridentes do Shoptime nos oferecerão panelas, garfos e facas quânticas. Ou, então, veremos nos outdoors propaganda de camas elásticas que proporcionam saltos quânticos.
Não é de hoje que tentam fazer analogias entre misticismo e ciência. Um bom exemplo é o famoso livro do Físico Teórico Fritjof Capra, O Tao da Física. Em sua obra, Capra tece comentários a respeito de possíveis paralelos entre filosofias e pensamentos orientais e a Física Moderna. O livro é muito bom, obviamente muito bem fundamentado com relação a ciência e traz bastantes detalhes sobre o Hinduísmo e sobre o Budismo. Em minha humilde opinião é o que deve ser feito, fundamentar-se bem sobre o assunto que será explanado e descrever analogias, coincidências, até mesmo curiosidades… (paramos por aqui). Infelizmente não é o caso de muitos charlatões que existem por aí. Eles aproveitam-se de circunstâncias as quais a ciência ainda não pode explicar, ou que são exacerbadamente complexas, para apoiar suas medíocres teorias sobre terapias, cosméticos e remédios quânticos.
Vejamos um pouco de história da Ciência. Por volta de 1900 pesquisava-se sobre a luz que alguns objetos emitiam quanto aquecidos. Faziam-se medições dessas luzes e montavam-se gráficos. Os resultados dos gráficos não podiam ser completamente explicados com a Física conhecida até o momento. Foi quando, então, um físico alemão, chamado Max Karl Ernst Ludwig Planck, utilizou artifícios matemáticos para adequar a curva advinda da experiência com a teoria. O que o Sr. Max Planck não sabia era que isso traria consequências fantásticas para a ciência moderna. Nessa época efervescente para a história científica surgiram teorias que possibilitaram a construção de aparelhos de extrema utilidade atualmente, como a lâmpada fosforescente, as câmaras de raio x, etc.
Não se pode negar que o “quanticismo” trouxe-nos inúmeros mistérios que não conseguimos entender. Um exemplo é o salto quântico. Se oferecermos energia para um elétron de um determinado átomo, dependendo da energia fornecida, ele desaparece de um nível energético e aparece em outro. Como é possível uma partícula que possui massa simplesmente desaparecer de um lugar e aparecer em outro? A questão é um pouco mais complicada do que isso, mas precisaríamos entrar em detalhes demasiado técnicos. O que eu quero dizer é que existem sim mistérios, questões obscuras, até mesmo inexplicáveis. O que não nos dá o direito de nos aproveitarmos do desconhecimento das pessoas para benefício próprio.
Enfim… eu aprendi uma lição, talvez funcione também para vocês. Toda vez que aparecer alguém, algum livro ou alguma palestra que prometa milagres medicinais ou psicológicos e que tenha a palavra quântica envolvida, pelo menos desconfie.
Autor: Armindo Guerra Jr.