As decadências se refugiam nos quartos. Enxergo atrás do concreto, esse desespero que quer abraçar; se reunir nos fins de semana, e lembrar que na decorrência do cotidiano, encerradas as segundas e as terças e quartas e quintas e sexta-feiras, todos são curiosos e maravilhosamente danificados. As prisões, paredes erigidas pela peste que infecta nossas vontades restritas, são a grade que não deseja aprisionar, apenas outro ombro onde se apoiar sem a cobrança da relação.
Daí arrebentar-se na vida ser nada civilizado — embora natural como é o corte da alma que sangra, sem a ciência da cor que propriamente jorra –, e a todo instante tão necessária é a atitude em não deixar correr, mudar, transformar-se, nunca conformar-se, como é o orvalho à pétala da rosa, que nem sabe que é flor. Os olhares de escárnio, os narizes torcidos, são essas convenções que as pessoas vivem sem questionar. Por isso vejo um vidro trincado em cada janela. Sera que abri a minha?
Uma vez vi um grande escritor, perguntado sobre seus excessos, responder sobre porque escrevia: “vivo o meu acidente, ao passo que inda discorro sobre o seu sem sua concessão.”
Se a necessidade do acerto tenta matar o defeito, como nos divertiríamos de desencontros? Antes não tivesse saltado no penhasco da existência, na qual garantia alguma há de se abrir o paraquedas na hora em que se espera. Eis que, de súbito, ocorre-me determinada epifania elementar, sem ter-me sido anunciada em sussurros inspirados ou confiada por poesia vacilante ou heroica alguma, apenas vértices de geometria simples, minha maior e bela contradição: sem salto não há respiração!
Autor: Lucas Vinícius da Rosa (04.08.14)