Sr. Foster era um homem de sucesso. Na garagem, entre seus dois carros — um deles o caríssimo, porém estimável, último presente de aniversário de sua mulher –, repousava um modelo off road 4×4 do ano. No andar de cima, no quarto, ele costumava dormir numa cama tamanho King Size. Ao seu lado, havia uma bela esposa, com barriga lipoaspirada e seios siliconados, no tamanho de sua cama para a qual, no teto, havia um espelho de iguais medidas: assim era possível idolatrar-se alguns minutos antes de dormir, e outros tantos ao acordar.
Como todas as noites fazia-lo, retirou seus óculos de leitura. Fechou o livro que lia, escrito por um grande empresário de ascensão, como tal se anunciava na contracapa, e igualmente o julgava Sr. Foster. Cria ficar mais sábio ao ler aquelas páginas, como se o próprio Confúcio as tivesse escrito; e percorrer os olhos por qualquer parágrafo que relacionasse em prosa “finanças” versus “força de vontade” era, para ele, sinônimo de virtude. Sr. Foster tinha milhares de reais em sua conta bancária, e um gerente, no Banco, que detinha para si uma sala especial e gravata Armani. Seus parâmetros de sabedoria eram sobretudo quantitativos e o quanto, por isso, a sociedade de seu círculo lhe aplaudiria em jantares dançantes no Clube da cidade.
O autor do livro era parecidíssimo com Sr. Foster, exceto por certas nuances e particularidades: ele era proprietário da empresa que projetara o carro do Sr. Foster; em suas inúmeras contas bancárias, espalhadas pelo mundo, possuía milhões de euros; sua cama era tamanho Super King Size, seus lençóis, comprados diretamente da China, cujo próprio presidente cumprimento e fotografia fizera e enquadrara; sua esposa era belíssima, importada da Itália e seus seios siliconados excediam o tamanho do leito. Sobretudo, porém, este autor identificava e aprofundava-se na mediocridade de pessoas como o Sr. Foster, e sentia-se até mais distante da morte que longevos camponeses gregos, assíduos seguidores da dieta do mediterrâneo.
O Sr. Foster teve filhos, dentro e fora de seu casamento… — e se há fortuna nesta estória, um deles apenas rebelou-se, e do segundo andar amarrou uma corda no pé da cama, e pela janela fugiu.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa