Hoje não precisarei encontrar palavras; elas vieram-me já de encontro, de súbito, como as pessoas estimadas com as quais topei. Não foram trombões, nem ombros chocando-se como se não se conhecessem. Não. Foram bons aforos, de encontros que, embora não esperados, eram como se me esperassem, alados, com pessoas de braços abertos e tocantes. Eis o sorriso, irrompendo a ocultação dos males máximos de cada um; e, mesmo vendo que através disso há outras coisas sombrias e sem pronúncia, vi a claridade brilhante desses outros olhos; que olham e refletem, como se fossem espelhos de suas almas, frias ou quentes elas se apresentem.
— Realmente, aqui não se frequentam as mesmas pessoas! – disse, em ironia puramente sorridente, e saúdavel; naturalmente agradecido por sua presença naquele lugar.
— Sim, olhe para você. – desdenhou, demasiado amigavelmente.
Dessa brincadeira tão corriqueira quanto fajuta, houve sintonia estabelecida na frequência mais humana. É como se todos nós escutassêmos, embora nossa geração esse hábito não tenha, por ter-lhe perdido, à rádio. Porém, abdicando muitos da audição, vendidos pelos outros sentidos, nem todos tivessem recebido a notícia: “Anunciamos, aqui, e agora, que alegria existiu em braços amigos nesses, e até em outros desconhecidos que, sem saber, seriam outros novos amigos.”
Autor: Lucas Vinícius da Rosa