Fora eu aos secos e molhados e solicitei:
— Vendam-me um revólver e uma agulha…
Atirei então em meu coração e sangrei.
Desejava ver quanto sangue ele expurga,
Pela ruptura da bala na aorta artéria
E ver de quantos amores sou a matéria.
Saíram de lá ternuras escuras e obscuras;
O viscoso sangue copioso fazia escorrer
O que de dentro eram verdades astutas;
Trazia a fragilidade incólume do meu ser.
A coragem do disparo fez-me até calado;
E no silêncio percebi meu peito inchado.
Notei carrancas torcidas pelo que sucedera;
Eram elas o médico? O padre? Ou a amante?!
Suas faces classificaram o ato uma blasfêmia;
Enquanto deleitava-me em meu próprio sangue.
Ah! A rubra cor da coloração das entranhas,
Sempre julguei incolores as mentes tacanhas!
Em seguida, voltei-me à agulha requisitada;
A fim de ser cirurgião preciso e inusitado
Ao tocar o ferro a ferida já esterilizada
Sorriu outra vez o órgão antes perfurado.
Só então pudera amar outra vez sem receio
Como Lord Byron suturara-se em seu tempo!
Autor: Lucas Vinícius da Rosa