Eu com os olhos arregalados,
ela com a privação de ver o que
já não quero;
Eu com minha boca cheia de dentes,
ela com a língua queimada,
que não sente mais o sabor;
Eu com as narinas alargadas,
ela com a incapacidade de se
embebedar nos jardins;
Eu com o andar reto das pernas,
ela com a cadeira de rodas
de trajetória oblíqua;
Eu com as mãos sem calos,
ela com os dedos em atrofia
de tanto se esforçar;
Eu com a minha educação de livros
caros, ela com o analfabetismo
cujo nome não sabe assinar;
Eu com o fígado de Prometeu,
ela com o órgão seduzido
pelos urubus sequiosos;
Eu com a minha juventude promissora,
ela com um testamento a autenticar;
Eu aparentemente completo; mas vazio,
e ela, ainda que sem possuir o que
posso ter, faz questão de sorrir!
Autor: Lucas Vinícius da Rosa