Somos acostumados aos contatos superficiais. Fugimos das grandes profundidades, como se nas baixas altitudes nossos pulmões não pudessem expulsar o gás carbônico. Para respirar, portanto, faz-se manter as cabeças com as bocas para fora, arfantes, de modo a se resgatar, a cada braçada, o oxigênio feito escasso nas baixíssimas profundezas. Eis o equívoco, de vislumbre estético e ingênuo, que nos torna passivos quanto ao juízo alheio. Rasguem-se, portanto, esses pulmões de pleura frágil! Submetamo-nos às grandes fossas oceânicas inexploradas! Que se afoguem os peitos que não respiram as impressões mais verdadeiras. Antes, porém, que a metáfora se torne ilegível aos insensíveis, façamo-la concreta: quando o mais belo dos indivíduos lhe encarar com a sensualidade do seu corpo, busque enxergar as entranhas mais escuras deste ser; feito isso, e se belo ele permanecer, estar-se-á, de fato, diante de genuína beleza, cujo encantamento sequer mais depende das formas.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa