Um sol cabisbaixo caminhava em tom decrescente; decaia um semblante, ou decaiam dois; já que estavam eles em grupos de quatro, ou cinco, houve decaímentos múltiplos; mais que quadrúplos ou quintuplos. Se a sociedade fosse assim tão fiel à sua sociabilidade, ou seus próntons se perdessem simplesmente de seu núcleo, eu diria que havia ali até um ecossistema, ou algo de um ambiente que pudesse ser descrito; uma simbiose. Depois de alguns instantes, ela, Amália, olhou para o lado direito. Chocaram-se seus olhos em relação à esta visão.
— Sua vagabunda, venha aqui. – suas pupilas saltavam horrivelmente, como se seus olhos babassem pela esclerótica.
Aquilo era tão medíocre, e a intropespecção do instante fora irrompida pelo paradoxo da Penha. Não que houvesse agressões nestes atos, mas, assim sendo, havia as mazelas da mulher oprimida por uma visão diminutiva. Não se fazem seres humanos pelo seu gênero, diria um autor decente. Assim outro concebe suas escritas de contradição, com lágrimas nas pontas dos dedos. Fã do afãs, e dos divãs, naqueles nos quais sequer alcançou-se o lugar que merecia, vejo-me propagador das vozes roucas e horríveis destes personagens.
Enfim, escuto o som da borracha. O sapato, este, emborrachado, maltrata o chão à medida que assinalo minha perigranação errada. Uma luz de prata, talvez apenas bijuteria, faz da fivela grandioso adorno; sou adornado pela mesquinharia que esquece; que negligencia; mas, que ama. Novamente, refiro-me aos outros.
Um mendigo passou por eles. E, depois da esmola, foram todos para um espelho, na casa onde repousariam espíritos inquietos. Dormiram, em algum tempo nem longe nem perto. Eu? Eu fiquei atordoado pela imagem que me matava e, ao mesmo tempo, como se uma humanidade invadisse meu corpo, possuia outro ser humano; acho que chamam isso de influências, classificadas no maniqueísmo da vida: amor ou morte; eu naturalmente ainda escrevo isto vivo, pelo apreço que tenho a este respirar sem significado, que eu mesmo lhe atribuo.
Desse revés fez-ze uma última lágrima. É que chorei pelas mortes infundadas, e fundei as instituição das vidas. Depois, como se possuído pelo ímpeto que ressuscita, escutei esta voz.
— Demos graças, se nunca tive pai assim. Outra graça se mãe não houve. Acho que agora sei como se sentem os refugiados das guerras, ou os esquecidos das placentas. Neste mundo, perto do calor das balas ou da frieza das bombas, este diágolo se repete demais. Ainda mais que minha redundância sobre a decadência humana.
— Mas, por que fazes isso: respirar fôlego que não é seu?
— Eu nada faço, senão o que a explicação a seguir se propõe. Que culpa teria eu se minha passividade escrevesse em linhas retas, ou tortas se adequadas às sinuosidades do espírito; não poderia dizer a geometria da verdade, nem que pontos tivessem dimensões, nem que Euclides se afogasse em nosso berço, a Mesopotâmia do vizinho afluente do Eufrates, aquele rio em que pescam nossos tios e sobrinhas mais ancestrais. Se um rei Carlos, no entanto, fosse transformado em abóbora, ou se um Luciano, o tal rei das eras atrasadas, ditasse o mal de todo o seu redor, talvez eu tivesse um ou outro sorriso. Para depois morrer da mais mordaz malária de todas. E não me refiro àquela do rio Nilo. A melhor malária vem da bactéria humana, cuja classificação nem Lineu ousou descrever em seu latim erudito.
Sacrilégios, por mais importantes que se façam, e agnoias, por mais agnozinates que se coloquem, são agonias ou sacrilégios. Duro, duro mesmo, é ter o ponto final derradeiro, a última das pontuações. Árduo é o serviço de denunciar o que em si se está inserido; meu doce, doce mundo; meu amargo, adstringente paladar.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa