outubro 10, 2014 Ensaio sobre a exclusão Um indigente repousa ao lado de sua garrafa plástica de aguardente, conforme se anunciam, da aurora, radiosos fios luminosos do céu desumano. À distância,…
outubro 6, 2014 Colina abaixo Juntem, todos, o que lhes cabe numa mochila, e me sigam colina abaixo — comigo ou não; Despreocupados com o que possam encontrar, ou…
outubro 5, 2014 Mapa-múndi Mantenho, ao lado da janela aberta de madeira, já pelo tempo incansável apodrecida em seus cantos, um gigantesco mapa-múndi, apregoado à parede de cor…
setembro 29, 2014 Folhas ao vento (Leaves in the wind) Voe com o vento, na direção Em que as leis não podem direcionar, Porque a minha autoridade Em pensar que o que eu…
setembro 28, 2014 O ciclo do eterno sucesso Sr. Foster era um homem de sucesso. Na garagem, entre seus dois carros — um deles o caríssimo, porém estimável, último presente de aniversário…
setembro 26, 2014 Transformando erros em ouro Afundo os pés na areia fria, e antes que a onda mais próxima os aprofunde ainda mais, cruzo os dedos das mãos. Não executo…
setembro 25, 2014 Da morte do indivíduo, para o nascimento da sociedade Estive pesquisando entre meus semelhantes, para verificar se, de fato, há semelhanças entre nós, de modo que nos coloquem em mesmas categorias e definições….
setembro 24, 2014 Por quem os corações dobram? Meu coração não está fechado para balanço. Nem aberto como se despede o inverno para que venham falsas primaveras. Meu coração é simplesmente o…
setembro 22, 2014 Amor fati Há a impossibilidade de muitos saberes ao decair da noite: em não saber quais pedaços deles ir-me-ei desfazer, não da carne, mas do espírito,…
agosto 15, 2014 Biologia erra Você, escárnio imperfeito de maturidade tardia é a morte precoce do meu coração altivo e vivo; Sua mediocre sina se espelha não em seu…
agosto 4, 2014 Paredes frágeis As decadências se refugiam nos quartos. Enxergo atrás do concreto, esse desespero que quer abraçar; se reunir nos fins de semana, e lembrar que…
julho 27, 2014 A vida é minha metáfora Dissemino na escrita minhas epidemias. Morrer por palavras é superior a falecer pela mudez da não expressão. Os amores que tive, e não pude…
julho 26, 2014 A verdadeira Monalisa Se a imagem impõe-se como o mais belo desafio de quem a descreve, vi-me na condição de explorar o perfeccionismo das palavras. Sem aquarelas,…
julho 26, 2014 Pai passado, filho presente Meu querido filho, posso, em quaisquer circunstâncias cabíveis aos seus tropeços e saltos, ver você chorando por esses olhinhos esbugalhados. Não importa se num…
julho 13, 2014 Quando chorei pelos meus avós Lembro-me de seus gestos que não sabiam escrever no ar. E depois da possibilidade de cometer todos os pecados, os quais apenas uma criança…
junho 24, 2014 Um molho de chaves vazio Seria impossível, outrora, que minhas ausências fossem preenchidas pelo que sequer tinha ciência existir. Como um cego de cegueira leitosa, surgida das páginas amarelas…
maio 15, 2014 Ostra feliz não faz pérola As culpas queimam como ácido. Quais seriam, então, as justificativas alcalinas a lhes neutralizarem. Todos os sofrimentos buscam ter sua explicação na sua causa…
maio 11, 2014 Olhos envidraçados Meu grito tem se transformado num sussurro. Posso me comunicar com todas as instâncias desse modo, ao mesmo tempo em que escuto minha própria…
maio 4, 2014 Eu sinto muito Costumava me sentir triste diante do nascer do sol. Neste dia, em especial, não chorei quando ele surgiu. Não me despertei com lágrimas secas…
abril 23, 2014 O que não ensinam nos bancos da escola A cabeça humana será sempre uma convulsão de sentimentos e percepções; explico-me. As drogas a ela trazidas — esqueça-se aqui a classificação moral…
abril 22, 2014 Olhos de Lis Teus olhos de lis fizeram-me um aprendiz quero ar desses pulmões ah… diria Camões amor é fogo que arde… não tenho mais medo pois,…
abril 20, 2014 Viciado eu me tornei, na droga da percepção “Oi, meu nome é Lucas Vinícius da Rosa, e eu sou um alcóolatra dos sentimentos cotidianos.” Tornei-me uma espécie de monstro com face…
abril 17, 2014 As vidraças humanas Olhei à direita. As vidraças da pizzaria eram verdadeiramente transparentes. Atrás delas, mesas recheadas de pessoas de carne e osso. Entretanto me pareciam todas…
abril 17, 2014 Licença para voo As nuvens choram fios de cristal Os lagos de meu peito se inundam Os meandros do que me é visceral São o que meus…
abril 13, 2014 Um aceno às paixões, sem o chapéu Assento-me aqui, confortavelmente em uma cadeira sem estofado, para narrar esta descrição nem dos céus, nem dos infernos. Poderia falar da vizinha Gertrudes, cujo…
abril 11, 2014 Ela era um verdadeiro tratado de Estética Àquela altura da noite, em que a embriaguez me tomava o organismo, não poderia absolutamente deixar de me espantar. Sua beleza era lúcida, precisa…
abril 6, 2014 Diário lúcido de uma alma embriagada Sento-me aqui para escrever o relato mais sincero possível. Irei esclarecer todas as partes ocultas pela neblina da negligência. E trago-me como personagem fictício,…
abril 2, 2014 Crepúsculo dos Ídolos A estátua de mármore, mas com pés de argila, Para fronte aponta seu lábaro de falsa glória Ostentando o sangue que derramara na pista,…
março 28, 2014 José, o metafísico da lanchonete árabe da esquina Em me debruçar na janela, ainda na adolescência da noite, constato o término de mais um dia para José e seus funcionários, na lanchonete…
março 9, 2014 Entre cores e vidro Cheguei atrasado no meu próprio enterro pois, quando beijei a morte na boca era outra boca que eu queria beijar como é triste perceber…