Olhei à direita. As vidraças da pizzaria eram verdadeiramente transparentes. Atrás delas, mesas recheadas de pessoas de carne e osso. Entretanto me pareciam todas elas, de onde eu as olhava, feitas de plástico. Numa destas mesas, uma família parecia comemorar uma grande conquista de sua filha, ou de algum amigo de longa data. Difícil deduzí-lo, ao passo que todos sorriam com os mesmos dentes branquíssimos em suas bocas; e as taças manchavam-se do mesmo sangue, do mesmo vinho.
Na mesa logo ao lado, um casal rompia sua mudez para dizer sim ou não para a pizza que se lhes oferecia. Conforme aceitassem mutuamente semelhante sabor, ressuscitavam um diálogo antes morto. Sorriam e justificavam, nesta circunstância, um ao outro estarem ali, comemorando uma data mais simbólica que significativa.
Desviei-me o foco da pizzaria, e olhei à direita. Um vasto conglomerado de prédios, corações de concreto em meio à cidade pulsante, penetrou-me a visão. Nas janelas acesas, por entre as cortinas semi-abertas, vi as mesmas pessoas de plástico da pizzaria. Todavia, ali, na intimidade de onde poderiam ser o que de fato eram, eram tão só frágeis seres de vidro. Quando desciam de seus protegidos arranha-céus, era como se tivessem tomado uma pílula de efeito efêmero, e seu peito pudesse respirar sem a poluição da atmosfera da subjetividade.
Uma vez na pizzaria, esqueciam-se de envenenar suas almas com com seus problemas diminutos ou profundos. Plástico, afinal, é mais resistente que vidro.
O garçom ofertou outra rodada de pizzas aos clientes. De súbito, dei-me conta que há muito tempo à pizzaria eu não frequentava.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa