Se ao andar acompanhado dos rostos desconhecidos, na rua dos Linhares, enxergo a vivência mais diversa possível, é porque ali, talvez como em qualquer outra rua, haja a variedade das solidões, vestidas em tecidos que adornam os corpos, mas escondem as mentes. E eu apenas me misturo, também com sonhos próprios, entre todos os outros, sem saber e sabendo que nunca se descobrirá jamais o que outra pessoa é, mesmo que se lhe tenha sentimentos profundos. Essa conclusão, tirada a partir das faces estranhas, aplico-a diretamente naqueles com quem firmo intimidade.
Mas, então, vejo-me tolo, porque a intimidade também não poderia revelar mais do que a oferta dos gestos e as palavras do outro, não a sua essência sonhada. Do contrário, eu mesmo poderia oferecer os meus sonhos às pessoas, pelos gestos e pela palavra; e como elas ficariam chocadas de como os extraio do vazio e de meros transeuntes, que rumam cada um para seus destinos, e me trombam os olhares e depois desviam, como se existissem em meu espetáculo, mas eu não os soubesse os nomes de roteiro.
Às vezes até transparecem uma tristeza honesta; outras, embutidos em suas aparências, disfarçam-se em truques que os reconheço, porque eu mesmo os utilizo por ventura. E a covardia da máscara é a força de utilizá-la, todos os dias, como se a rotina exigisse, para cada ambiente, uma vestimenta para as feições. Mas alegra-me o fato de, também, existir a máscara da alegria, pintada muitas vezes pelas vias da loucura, a quem deveria a sociedade ser agradecida, por ser ela a sua parte mais coerente.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa