Imagino que muitos já tenham passado por isso: uma tempestade, logo após uma calmaria, em seguida uma fria brisa que faz lembrar os ventos forçosos que antes estremeciam. Sabe, há muita vida por todos os lados. Estive observando os pássaros. Os pavões. As avestruzes. Os galos. Os sapiens sapiens. Os rinocerontes. E alguns poucos leões. Tal ecossistema, longe de ser o zoológico infantil, no qual trazidos pelas almas adultas as infantilidades se criam, este era meu próprio habitat. Então pude ver a lágrima escorrer pelo animal menos fraco: o humano. E o mais forte padecer da lágrima que não descera em sua última batalha: o humano. Ora, naturalmente a metáfora arrebata grandes e edifica pequenos. Pequeno nasci. Fui crescendo. Adolescente me tornei. Após algum tempo, na juventude em que as luzes do sol pareciam envelhecer mais, trazendo a velhice inevitável, eu vivi. Esperei os quarentas anos para saber que não vive aos vinte. E aos vinte sentia que não iria alcançar os quarenta. Depois de alguns, pude aliviar-me. O acaso da vida não havia ainda me arrebatado. Criei meus filhos, e então senti falta de meus pais. Em seguida, após ter sido filho, e sido pai, morri como avô. Além disso, observei os olhos quentes e chorosos das esquinas, enquanto outros, no outro lado da rua, sorriam para até para a felicidade que não havia ao lado. Não há Moiras gregas tecendo a teia da vida. Não há! Nós somos a linha que se emaranha no novelo. Então vi que o zoológico, as atrações humanas para os humanos, são o subterfúgio da insegurança crônica dos netos. Estou com medo de escrever isto: tenho medo das minhas gerações. E a obscuridade dos passeios pelos quais passei esclarece. A luz arrebata os olhos, apenas porque faz-nos ver a ilusão dos sentimentos supérfluos, enquanto se afloram os obscuros; se assim para isso houver uma coragem astuciosa. Ou seja, nasci cego ou com a percepção da visão sublime?
Autor: Lucas Vinícius da Rosa