Dissemino na escrita minhas epidemias. Morrer por palavras é superior a falecer pela mudez da não expressão. Os amores que tive, e não pude cativá-los, são meu troféu enferrujado pelo sentimento. Buscava respostas tão exatas nos beijos alheios, e não pude, então, formular com os lábios outros outras perguntas. Preferi o veneno das paixões a olhar para as paredes brancas, descascadas, como meu coração, pela observação que não vive, apenas vê.
Mas se a impressão traz a própria experiência, entre variados erros comuns e ordinários, encontro pessoas certas aos terrenos que me pedem companhia, enquanto os percorro.
Ah, tão acostumado aos valores medíocres, doutrina dos educados, em uma sociedade educada, com pessoas educadas, já não posso ser assim tão exemplar. Quando proponho-me a expor os exemplos, sei não mais se me comparo a alguém, ou se comparo o que não sou ao que deveria ser.
Escondido nos cofres de mim mesmo, acho inverdades maravilhosas em Fernando Pessoa, e me consolo como os gregos antigos operavam sobre si antes de inventarem Sócrates. Na ponta da minha lança, há o mito do sentir, o antídoto não previsto por Hipócrates, e a Teogonia não escrita por Hesíodo ou Homero.
Vejo-me abençoado com talento maldito. Estou cego de escrita, e vivo através de arranhões na alma. Assim atravesso o marasmo, registrado pela história do homem de forma tão negligenciada, como se o tédio não me pertencesse, como corpo estranho ao próprio corpo, ou apenas desejasse a cultura da mesmice expulsar.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa