Se a imagem impõe-se como o mais belo desafio de quem a descreve, vi-me na condição de explorar o perfeccionismo das palavras. Sem aquarelas, pincel, quadro e tela, ainda assim pinta-se seu quadro formoso, certamente objeto de extraordinária cobiça aos olhos que o veem, e secretamente lhe exaltam.
Na finura de seu traço, repousa a ternura das feras, formatada em seu rosto, que, mesmo ausente de sua autorização, encanta os mais escondidos dos espectadores. Atrás das cortinas, vejo pulsarem os elogios nas mentes quietas que não sabem em voz alta dizer. Eu sei, porém.
Ressuscitei todos os membros da escola impressionista, para avisá-los, desesperadamente (como quem quer alertar sobre figura tão bem montada) sobre você minha incontida impressão.
Entre o róseo e o vermelho, seus lábios confundem-se às cores da sua natureza. E se seus cabelos expõem os fios às brisas esvoaçantes, vê-se uma inversão de forças antinatural — e seu gesto, mesmo que estático, doutrina toda a ação dos elementos da terra.
Suas unhas são como a ponta do iceberg, cuja imensidão não se anuncia em primeira vista, nem numa segunda. Ao terceiro olhar apenas, mais profundo que qualquer outro impacto visual, reserva-se o enigma oculto pela sua forma, e o mistério que instiga a lhe decifrar.
Quantas invenções não criou o homem, sob o patrocínio de sua criatividade. E, no entanto, de tudo o que fora inventado, nada resta perante a sua modernidade destacada. Oswald de Andrade sussurra-me no ouvido uma nova semana de arte moderna – exclusiva à sua representação -, ao passo que enxergo seu progresso do moderno ao clássico, lugar cativo às relíquias raras da estética.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa