Fiz-me, entre um abrir e piscar de olhos, um pretenso teórico e investigador. Elaborei uma teoria sobre a composição humana; mais precisamente sobre o coração dos homens. Menos um músculo cardíaco, dosado em seu tamanho pelo punho de quem o carrega, ei-lo mais, muito mais, como um conjunto de camadas enigmáticas.
Nas películas mais externas ou expostas, aquelas possivelmente visualizadas pelos olhos estranhos, há uma tonalidade quase mesma. Em verdade, caminhando através das ruas acumuladas pela gente, vejo todos esses órgãos tingidos segundo a mesma cor. Isso, todavia, não satisfez a curiosidade do meu espírito. E minha teoria parecia incompleta, motivo pelo qual aprofundei-me mais. Enfiei a mão em meu peito; retirei-a e olhei para o quê nela se apresentava.
Pude ver suas camadas inferiores. Pensei em como os gregos, milhares de anos antes de mim, já se inquietavam pelo que então me aturdia. Assustei-me; surpreendi-me como uma criança se espanta diante de algo novo, e ansiei decifrá-lo. Era como se uma aquarela de matiz muito variada, tal qual o branco é a soma de todas as cores, houvesse pintado as camadas mais profundas com cores mais embaçadas.
Suspirei por um instante. A teoria precisava estar completa, tornara-se uma obsessão. Revelar-se-ia ela nos monstros e deuses que eu mesmo criara em meu peito iludido. Lá na profundeza do órgão, em seu ponto mais ínfimo, eis que não havia escuridão onde esperava encontrá-la — havia eu mesmo.
Sabendo que poderia me estender infinitamente neste processo, e que em cada etapa analisada, uma cor nova eu descobriria, saciei-me por ora; temerário antes, agora fui precavido e retornei o órgão ao seu lugar de origem. Meu espírito alegrava-se pela coragem em mergulhar em si. Entre se submeter à possibilidade da cegueira (caso as cores fossem muito intensas) ou ser um cego de olhos abertos, preferi a primeira opção.
Esclareço, assim, minha teoria aos que quiserem testá-la. Ei-la nos parágrafos, em cor rubra destacados, acima.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa