Violeta não é margarida, mas são ambas flores, e nas floriculturas entretanto se encontrem arranjos com as duas pétalas de cor distante. Filosofias atenienses não são espartanas, como fica provado pelo colossal confronto de Peloponeso, todavia em ambos os lados se encontram hérois e deuses mortos. Salgado não é doce, ainda que casais enamorados e divididos criminalizem tal regra, e optem pela pipoca doce e salgada nos cinemas. Vida não é morte, embora haja esqueletos sem carne que já se parecem enterrados, ou vidas mortas das quais o próprio falecimento foge. Trabalho não é emprego. Explica-se esta divergência pela simples indagação: já viu emprego forçado ou escravo? Diz-se sobre isso que sim para o trabalho, mas para o emprego são-me ocultados os exemplos. Paixão não é amor, porém firmam-se tantas promessas, ditas pelos espíritos apaixonados, escritas em contratos de amor, sem saber que nessa legislação amar não prescreve nem expira, como o faz rotineiramente a paixão. Cachorro não é gato, contanto na hora do desespero humano mais agudo, momento em que sozinhos no quarto encaramos as paredes, são ambos os melhores amigos do homem. Homem não é mulher, todavia disso qualquer raciocínio sensato dirá que são os dois igualmente capazes. Temos fortuitos exemplos a sustentar o que fora afirmado: Marie Curie, e seu câncer contraído nas cavernas recheadas de rochas radiotivas chamadas pechblenda, Cleópatra, impávida imperatriz egípcia cujas cobras, ao invés de Marco Aurélio, picaram ela própria, Hannah Arendt, e sua filosofia da ética e justificadamente antiética por ter-se deitado com Heidegger, rainha Elizabeth I, a virgem, e seu reinado de levante da política inglesa, ainda que sua política tenha sido a castidade. Finalmente, nem todo autor é escritor, mas a esse respeito que os textos falem por si se alguém congrega os dois; Machado de Assis e Voltaire exibiram essa proeza.
Autor: Lucas Vinícius da Rosa